Estávamos ali, rindo, um dia depois do seu aniversário de 19 anos. Lembro que olhávamos as pessoas da janela do oitavo andar e comentávamos como elas pareciam formiguinhas e que os carros e ônibus eram tão minúsculos quanto brinquedos. Como rimos...
Nunca passou pela minha mente que algum dia você estaria desesperadamente angustiado para se jogar daquela mesma janela que foi testemunha de um dia tão feliz. Ainda é difícil acreditar que isso realmente aconteceu mesmo depois de eu comparecer no seu velório, enterro e missa de sétimo dia.
Sei lá... Ainda tô esperando te encontrar na Avenida Paulista ou na Rua Augusta para te abraçar e rir das suas piadas. Ainda tô esperando te ver para fazer aquela lasanha que você tanto gosta e olhar de novo para aquele seu sorriso lindo. Ainda tô esperando...
É impossível esquecer a primeira vez que te vi, Gabo. Um mocinho magro, com então 17 anos, que estava sempre com lindas pinturas cheias de glitter no rosto. Te olhava e ficava admirada com a vitalidade que fluía de você. Eu, naquela época, não passava de uma garota triste que bebia muito para diminuir a carência. Coisa de gente fraca... Por algum motivo, você chegou e disse que, apesar de parecer louca, eu era diferente das pessoas que estavam naquele bar. Sei lá... Você enxergou algo em mim. Algo que só você via e que, anos mais tarde, eu viria ter certeza que era um sentimento de outras vidas.
Olha você assoprando as velas do seu aniversário de 19 anos. Ao invés de bolo, fiz a lasanha que você tanto gostava. Uma das minhas maiores alegrias era ver você comendo algum prato que fiz. |
Na primeira vez que saímos juntos eu te levei para o Vegacy, aquele restaurante vegano que fica na Rua Augusta. Te levei lá porque você queria experimentar a culinária vegan e, para minha felicidade, você amou todas as delícias que tinham lá. Depois, você me acompanhou na Marcha das Vadias. Você não questionava nada. Só vinha e pronto. Nem todo mundo é assim...
O tempo passou e nossa amizade ficou intensa muito rápido. Éramos inseparáveis. Lembro que nos encontrávamos quase todas as noites quando eu trabalhava em Pinheiros e do quanto saíamos nos finais de semana. Os programas iam de shows e peças de teatro à especiais da Amy Winehouse ou baladas com shows de drags. Ai Gabo! Você me fez tão feliz...
Eu ficava impressionada toda vez que você queria me ajudar a enfrentar um problema. Não importava. Você moveria montanhas se fosse preciso. Foram incontáveis as vezes que você me surpreendeu só porque queria me ver feliz. Não era a toa que você era meu amigo para todas as horas.
Várias vezes você chorou nos meus braços. Assim como eu chorei nos seus também. Quando me via triste, você me abraçava e sabia me confortar como ninguém. Você me acolheu e me ajudou a enfrentar medos e angústias. E tudo foi reciproco. Um apoiava o outro, lembra?
O ano passado foi muito difícil para você, meu amigo querido. Vi que você estava sofrendo e, apesar de você não contar o que estava acontecendo, eu tentava te aconselhar. Eu te conhecia muito bem. Portanto, sabia o que dizer. E cada vez que conversávamos eu acreditava que você ia superar tudo e logo eu te veria radiante de novo, como você sempre foi.
Estou tentando manter o equilíbrio, pois perdi o anjo que apareceu na minha vida - não foi por acaso que seus pais escolheram "Gabriel" para ser seu nome. Eu, que sempre fui cética, me peguei rezando e pedi para que você descanse em paz. Fui à igreja, acendi velas e, em meio a lágrimas, clamei para que os céus cuidem e recebam a sua alma. Descansa em paz, Gabo. Muito obrigada por todos os momentos que vivemos. Te amo muito!
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